A toxina botulínica é utilizada desde a década de 1970 para tratamento de estrabismo e blefaroespasmo, e tem se tornado uma medicação versátil em várias áreas da medicina. É uma proteína derivada da bactéria Clostridium botulinum e atua inibindo a liberação de acetilcolina na terminação nervosa, o que provoca uma paralisia ou paresia no músculo injetado. Não ocorrem alterações estruturais na fibra muscular e, dessa forma, depois que a droga é eliminada pelo organismo, o músculo retoma sua ação.
Estudo sobre a toxina botulínica
Seu uso na estética iniciou com o estudo publicado pelo casal canadense Carruthers em 1992, que revelou a suavização de rugas em pacientes portadores de espasmo facial tratados com a toxina botulínica. Estudos clínicos maiores documentaram a segurança e eficácia do produto, e o FDA aprovou seu uso cosmético em 2002. A maior aplicação estética do medicamento é no terço superior da face para tratamento de rugas da glabela, testa, porção superior do nariz e ao redor dos olhos. O uso na parte inferior do rosto requer mais experiência do injetor e doses menores, devido à maior variação anatômica dessa musculatura entre indivíduos e ao potencial de efeitos adversos envolvendo os músculos envolvidos na fala, mastigação e deglutição. Pode ser utilizada para tratar rugas periorais, sorriso gengival, depressão da ponta nasal durante o sorriso, assimetrias, rugas no mento, hipertrofia do masseter e rítides cervicais.
Já as indicações não cosméticas da toxina cresceram muito nas últimas duas décadas, e várias condições podem ser tratadas por diversas especialidades médicas:
- Dermatologia: hiperidrose axilar e palmo-plantar, queloides e cicatrizes hipertróficas, acne, rosácea, psoríase, genodermatoses, hidradenite supurativa, alopecia e bromidrose.
- Oftalmologia: estrabismo, blefaroespasmo, ptose e lacrimejamento excessivo.
- Neurologia: enxaqueca crônica, distonias, tremores, síndrome de Tourette e dor neuromuscular.
- Otorrinolaringologia: bruxismo, disfonia, rinite e sialorréia.
- Urologia: incontinência urinária e hiperplasia prostática benigna.
- Ginecologia: vaginismo.
- Gastroenterologia e coloproctologia: distúrbios esofagianos, gastroparesia e espasticidade do esfíncter anal.
A maior parte dos usos off-label da medicação são para tratamento de doenças crônicas. Os resultados são promissores e sua segurança está bem estabelecida, porém o uso amplo ainda é limitado pelo alto custo. Também faltam mais dados sobre o potencial imunogênico da droga: sabemos que doses altas e frequentes aplicadas podem levar à produção de anticorpos, resultando na perda de efeito em aplicações a longo prazo. Mais estudos são necessários para investigar o papel da toxina botulínica na regulação de neuropeptídios e sua relação com o sistema imunológico, para então compreendermos toda a base fisiopatológica desses efeitos terapêuticos da toxina e suas aplicações nos diversos sistemas do corpo.
Autora: Gabriela Aquino
Fonte: Pebmed