Teve repercussão mundial o artigo publicado em 11 de março pelo periódico The Lancet sobre três estudos que sugerem relação entre as maiores taxas de mortalidade de pacientes com Covid-19 e co-morbidades e o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINE's), como o ibuprofeno. O aspecto enfocado é aumento da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2).
Outros medicamentos que atuam na mesma via (o sistema renina-angiotensina-aldosterona) estariam também associados a maiores chances dos pacientes com comorbidades evoluírem para quadros graves. Encaixam-se nessa definição as substâncias da classe das tiazolidinedionas (TZD's), usadas por diabéticos, e anti-hipertensivos de duas classes: os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e os antagonistas do receptor da angiotensina II (BRA). São exemplos de IECA substâncias como captopril, enalapril e ramipril. Fazem parte da classe dos BRA a losartana, candesartana, ibesartana e valsartana. Com largo emprego no controle da hipertensão arterial, as duas classes agem por mecanismos diferentes sobre a enzima angiotensina 2.
A discussão reverberou ainda mais após um tuíte do ministro da Saúde da França, Olivier Verbán, alertando a população: "Tomar medicamentos anti-inflamatórios (ibuprofeno, cortisona,...) pode agravar a infecção. Em caso de febre, tome paracetamol. Se você já está tomando medicamentos anti-inflamatórios ou em caso de dúvida, pergunte ao seu médico", escreveu o ministro.
Embora faltem evidências científicas, a hipótese levantada pelos pesquisadores é de que a maior quantidade da enzima ACE2 facilitaria a replicação do vírus no organismo e aumentaria a gravidade da infecção, e assim as chances de ter uma infecção mais grave. A ACE2 é usada pelo vírus SARS-CoV-2 para infectar as células humanas.
"Não existem estudos clínicos randomizados mostrando isso de maneira categórica", disse ao Medscape o Dr. Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Na segunda-feira 13, a entidade publicou uma nota técnica situando a discussão, como mostra o trecho destacado abaixo:
"Em vistas ao conhecimento do envolvimento da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) na fisiopatologia da infecção pelo coronavírus, especula-se que a modulação dessa via poderia ser uma alternativa a ser explorada no manejo desses pacientes. A utilização de fármacos como os inibidores de enzima conversora de angiotensina (iECA) e os bloqueadores de receptores de angiotensina (BRA), assim como o uso de tiazolidinodionas e de ibuprofeno resultam em elevação dos níveis da ECA-2. Os dados disponíveis até o momento alertam que os pacientes infectados com o novo coronavírus que tenham diabetes ou hipertensão ou insuficiência cardíaca e estejam em uso de IECA ou BRA devam ser acompanhados adequadamente. Em não havendo evidências definitivas a respeito da associação entre o uso desses fármacos e maior risco da doença, a SBC recomenda a avaliação individualizada do paciente em relação ao risco cardiovascular da suspensão dos fármacos versus o risco potencial de complicações da doença."
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Fonte: Medscape