A corrida contra o tempo para compreender mais e melhor a variante de atenção (VOC, do inglês, variant of concern) P.1 – inicialmente identificada em turistas japoneses vindos de Manaus e hoje já detectada em vários estados do Brasil e em quase 20 países – começou a dar frutos.
Um estudo em pre-print[1] (ainda não revisado por pares) realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia indica que, em adultos infectados pela variante P.1, a carga viral seria 10 vezes maior do que a detectada em isolados de outras variantes do SARS-CoV-2. As amostras P.1 e não P.1 foram coletadas do trato respiratório superior e no mesmo tempo após o aparecimento dos sintomas.
"A pesquisa foi feita para entender melhor o que levou a variante P.1 a este sucesso na disseminação. A comparação da quantidade de vírus nas amostras dos pacientes infectados pela P.1 em relação aos infectados por outras variantes mostra claramente que a infecção por P.1 gera maior carga viral em adultos", disse ao Medscape o Dr. Felipe Naveca, vice-diretor de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz Amazonas e o pesquisador que liderou o estudo.
"Foi um dado surpreendente. Consideramos apenas as amostras testadas pelo mesmo kit de extração, pelo mesmo protocolo de PCR em tempo real e conseguimos mostrar essa diferença entre os dois grupos com quase 500 amostras. Para verificar se podia ter algum viés relacionado a sexo e idade, separamos as amostras em grupos de 18 a 59 anos por sexo. A diferença se manteve estatisticamente significativa, um P muito próximo a 0,001", afirmou o Dr. Felipe.
A carga viral nas amostras não foi medida de forma direta. Os pesquisadores obtiveram uma estimativa usando threshold cycle (ou Ct) – número de ciclos de amplificação do teste por transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR, sigla do inglês, Reverse Transcription Polymerase Chain Reaction) necessários para a detecção do RNA viral. Quanto menor o Ct, maior a carga viral. O que se observou foi que a mediana de valor de Ct nas amostras P.1 foi menor do que nas amostras não P.1, indicando uma carga viral quase 10 vezes maior.
Se em adultos houve grande diferença entre as cargas virais de amostras P.1 e não P.1, em idosos o significado estatístico dessa diferença se mostrou pequeno. Os autores atribuíram isso a limitações na amostragem, ou a causas biológicas – indivíduos nessa faixa etária podem ser igualmente vulneráveis a todas as linhagens do vírus.
Para os cientistas da Fiocruz, os dados sugerem que adultos infectados pela variante P.1 são mais infecciosos do que aqueles que carregam outras variantes. Com mais carga viral nas vias aéreas superiores, maior a chance de expelir mais vírus e infectar pessoas próximas.
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Fonte: Medscape