Em abril, a Secretaria da Saúde do Paraná declarou que o estado “está em epidemia de dengue” por meio do Informe Epidemiológico de Arboviroses No 34/2021-2022 (Semana Epidemiológica 31 a 15). Os demais estados da região Sul do Brasil também vêm apresentando um aumento expressivo de casos e óbitos pela doença.
De caráter sazonal, a dengue precede o período chuvoso, com aumento da temperatura e da circulação do mosquito vetor do vírus, o Aedes aegypti, que ocorre de novembro a maio no Brasil.
Em 2022, as regiões brasileiras com maior incidência de casos de dengue estão sendo Centro-Oeste (732,6 casos por 100 mil habitantes) e Sul (272,1 casos por 100 mil habitantes). Até o momento, a região com menor incidência é a Nordeste (75,7 casos por 100 mil habitantes). O sorotipo 1 é predominante nas regiões Centro-Oeste e Sul. Há uma circulação importante do sorotipo 2 no Rio de Janeiro, no Sergipe, na Paraíba, no Rio Grande do Norte e no Ceará. [1]
A última grande epidemia de dengue no Brasil foi em 2019, com predomínio do sorotipo 2. Do sorotipo 1, a última grande epidemia foi entre 2015 e 2016, associado ao aumento de casos de chicungunha e zika, principalmente nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
As grandes epidemias de dengue apresentam uma característica bem peculiar: ocorrem com certa periodicidade, com intervalo de dois a três anos entre si. Esta periodicidade está relacionada a uma combinação de condições climáticas que favorecem a multiplicação do Aedes aegypti e à imunidade coletiva decorrente da circulação prévia dos quatro sorotipos do vírus. Portanto, de tempos em tempos existem coortes suscetíveis em diferentes regiões do país, e o impacto da dengue acaba sendo diferente nos estados.
Na região Sul, a atual estação chuvosa está sendo particularmente forte; e as temperaturas, elevadas. É a região menos acometida por epidemias de dengue e, portanto, com um número expressivo de pessoas sem anticorpos contra o vírus, o que potencializa o impacto da doença, principalmente de casos graves associados a hospitalização e óbito.
A recente introdução da dengue aos estados mais frios do Brasil pode estar associada às mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, que favorecem a expansão de vetores como o Aedes aegypti para regiões que no passado apresentavam temperaturas mais amenas. [2] Portanto, essa região claramente deve receber alta vigilância para a doença nos próximos anos, com instituição de medidas preventivas e melhorias na rede assistencial, a fim de minimizar o número de casos, óbitos e internações.
Fonte: Medscape